A inclusão de alunos com deficiência às classes regulares, com poucas exceções é ainda uma experiência bastante difícil. No entanto, essa dificuldade não reside apenas na deficiência, mas também e principalmente no fato de a escola se configurar como uma estrutura altamente rígida. A escola não foi projetada para a diferença. A dificuldade maior nao está, portanto, no aluno e sim no projeto de educação que desenhou uma escola para os iguais. Na base desta rigidez, está a ideia errada de que todos partem das mesmas condições e que todos têm a oportunidade de chegar ao mesmo ponto se seguirem pelo mesmo caminho.
Na mitologia grega há um mito conhecido como Leito de Procusto, que relata o seguinte:
Procusto era um salteador de estradas. Na altura do caminho em que ele se instalava, julgava quem poderia fazer a travessia. Para realizar o julgamento, Procusto dispunha de um leito, no qual ordenava que ali se deitasse todo aquele que desejasse cruzar a estrada. Se porventura, o indivíduo não coubesse na medida exata da cama, sem titubear, ele esticava o pretendente ou cortava-lhe as pernas para que tivesse, então, o tamanho ideal. Triste era a sorte daquele que não coubesse no leito de Procusto. A mutilação ou o suplício, era o seu castigo. Não haveria perdão, nem desculpas. A lei posta que estava, não dava chances a ninguém.
Vivenciar a diferença não é uma experiência aceitável para nossa cultura. Assim como Procusto possuía seu leito implacável, desta forma possuímos também, um senso de julgamento que, não raras vezes, mutila, senão fisicamente, mas psicologicamente, aquele que se atreve a fugir dos padrões estabelecidos
É provável que o insucesso de muitos alunos, resulte do fato de a escola lhes oferecer uma cama única e lhes cortar o corpo e a alma à maneira de Procusto. E isto não deve recair apenas sobre a figura do professor, pois é resultado da força de relações diversas que ali se estabelecem.
Possibilitar à todos, meios de acesso e permanência com qualidade às instituições de ensino é o grande desafio que se configura, e isso requer da escola abandonar verdades cristalizadas e abrir-se à novos paradigmas educacionais, em mudar, rever conceitos, em desaprender, antes mesmo de ensinar... Pra que a escola não tenha o mesmo triste fim de Procusto.
4 comentários:
A comparação com o mito foi perfeita, deixando ainda mais clara a idéia de que são os colégios, ou seja, o ambiente, o maior limitador de oportunidades das pessoas que estão fora dos padrões de aprendizagem. Parabéns. Gostaria de reproduzir em meu blog este post, posso?
Oi MAQ, prazer em recebê-lo aqui. Claro que pode reproduzi-lo. Será um prazer contribuir.
Abraço.
oi aMIGA...
Li TEU TEXTO E FIQUEI PENSANDO SOBRE O ASSUNTO!
É nesse sentido que devemos contribuir para reflexão se estabeleça na escola como um todo. O que me preocupa é que os governos " as autoridades" que deveriam estar propondo esse debate, porém aqui no sul a o governo quer terminar com os planos de carreira, eleições de diretores e etc... e tal.... estamos na era do desmonte da escola pública. O leito de Procusto está funcionando a todo o vapor. Amiga só temos a lamentar, chegando ao fim de carreira e vendo o que está acontecendo , embora se tenha uma LDB até bem democrática e de certa forma bem abrangente com a inclusão. Mas a gente morre e não vê tudo! Um abraço com meus parabéns pelas idéias e reflexões. bju
oie,achei muiiito interessante
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