Há eucaliptos e há jequitibás...Rubem Alves assim definiu professores e educadores, nessa mesma ordem. Eucaliptos, aquelas árvores sem vergonha que crescem depressa e podem ser substituídas com rapidez e sem problemas. Jequitibas, árvores seculares que possuem uma face, uma identidade, uma estória.
Lendo-o, mergulhei numa esfera de tempo que já vai longe... Pelos idos de 1980 e poucos. Lembrei de dona Adélia e de dona Valdete, professoras que me acompanharam na 1ª e 2ª série respectivamente.
Dona Valdete ensinava sorrindo. Dona Adélia só ensinava.
Ambas deixaram marcas. As deixadas por dona Adélia ficaram como hematomas que não mais doem, mas permanecem. As de dona Valdete, como rabiscos de tinta guache, coloridos de sonhos, hoje suavisadas pelos dias que escorrem vorazes, mas ainda nitidamente visíveis nos papeis ja amarelecidos. Seus ensinamentos tinham sabor doce. De sorvete com calda de ternura.
Dona Adélia sabia dar aulas. Dona Valdete sabia aprender, (re)aprender e (des)aprender todos os dias.
Dona Adélia era uma funcionária do Estado; dona Valdete, artesã. E como artesã, não permitia que sua identidade fosse engolida por sua função. Sua identidade eram suas convicções, aquilo em que acreditava e que a trouxera até aquela escola, naquela sala, com aquelas crianças: eu e meus colegas, e onde podia se ler em negrito, Ofício: educadora.
Dona Valdete não lecionava. Plantava tâmaras, e não se preocupava se a colheita demorasse a vir. As duas tinham um emprego. A diferença é que uma chamou-se, assim, de dentro, a outra fora chamada.
Dona Adélia seguia os horários e cumpria rigorosamente as datas. Tudo pra ela funcionava com a rigidez de um oficial. Dona Valdete era livre e feliz.
Dona Adélia seguia o conteúdo dos livros disciplinarmente. Dona Valdete escrevia poesia. Eu as declamava na igreja.
Dona Adélia me ensinou a escrever; dona Valdete, o gosto pela escrita.
Dona Adélia controlava com o olhar e proibia; dona Valdete com o sorriso e a explicação.
Dona Valdete era uma Bela (des) Adormecida. Dona Adélia, não mais a vi. Talvez tenha sido acordada de seu sono letárgico. Ou não.
Inspirado na crônica de Rubem Alves: Sobre jequitibás e eucaliptos
Lendo-o, mergulhei numa esfera de tempo que já vai longe... Pelos idos de 1980 e poucos. Lembrei de dona Adélia e de dona Valdete, professoras que me acompanharam na 1ª e 2ª série respectivamente.
Dona Valdete ensinava sorrindo. Dona Adélia só ensinava.
Ambas deixaram marcas. As deixadas por dona Adélia ficaram como hematomas que não mais doem, mas permanecem. As de dona Valdete, como rabiscos de tinta guache, coloridos de sonhos, hoje suavisadas pelos dias que escorrem vorazes, mas ainda nitidamente visíveis nos papeis ja amarelecidos. Seus ensinamentos tinham sabor doce. De sorvete com calda de ternura.
Dona Adélia sabia dar aulas. Dona Valdete sabia aprender, (re)aprender e (des)aprender todos os dias.
Dona Adélia era uma funcionária do Estado; dona Valdete, artesã. E como artesã, não permitia que sua identidade fosse engolida por sua função. Sua identidade eram suas convicções, aquilo em que acreditava e que a trouxera até aquela escola, naquela sala, com aquelas crianças: eu e meus colegas, e onde podia se ler em negrito, Ofício: educadora.
Dona Valdete não lecionava. Plantava tâmaras, e não se preocupava se a colheita demorasse a vir. As duas tinham um emprego. A diferença é que uma chamou-se, assim, de dentro, a outra fora chamada.
Dona Adélia seguia os horários e cumpria rigorosamente as datas. Tudo pra ela funcionava com a rigidez de um oficial. Dona Valdete era livre e feliz.
Dona Adélia seguia o conteúdo dos livros disciplinarmente. Dona Valdete escrevia poesia. Eu as declamava na igreja.
Dona Adélia me ensinou a escrever; dona Valdete, o gosto pela escrita.
Dona Adélia controlava com o olhar e proibia; dona Valdete com o sorriso e a explicação.
Dona Valdete era uma Bela (des) Adormecida. Dona Adélia, não mais a vi. Talvez tenha sido acordada de seu sono letárgico. Ou não.
Inspirado na crônica de Rubem Alves: Sobre jequitibás e eucaliptos
Um comentário:
Vim aqui a procura do texto do Rubem, para enviá-lo a uma amiga portuguesa, descrente com o sistema. Li e adorei, quero morrer Valdete, simplesmente.
Prazer em conhecê-lo.
Postar um comentário