Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de levar a termos sua paixão, Narciso suicidou-se por afogamento.
É final de semana... você resolve sair um pouco da rotina. Um evento que vai escolher a mais bela representante da sua cidade num concurso de beleza é a opção.
Você se programa para não chegar atrasada e para conseguir um bom lugar na arquibancada que nesses dias fica lotada.
Você consegue chegar no horário previsto, ainda há alguns lugares vagos... você escolhe o lugar, distribui as almofadas para ficar mais confortável, senta-se e aguarda o início do desfile. O ginásio lota e em pouco tempo já não há mais lugares. Aí você comemora sua visão privilegiada e o fato de não estar no meio daquela balbúrdia, espremida como uma sardinha enlatada. Doce ilusão...
Uma meia dúzia de desavisados resolvem, ignorando toda a platéia que está atrás posicionarem-se em frente...e em pé. ( mesmo com alguns lugares ainda vagos na primeira arquibancada).
A visão da beleza é substituída pela visão de corpos na sua frente, que indiferentes ao transtorno que estão causando continuam ali, como se no mundo só existissem eles e seus umbigos.
Você tenta ser educada...
Tentativa 1: Moço, será que você pode se sentar? Está atrapalhando...
Ele ouve, vira-se para trás, fala qualquer coisa, senta um pouco, levanta...
Você parte para ironia:
Tentativa 2: ( fala bem alto) Ainda bem que tem gente que se importa com os outros!
Nesse interim já se formou uma barreira intransponível na sua frente, todo mundo ouve, mas faz de conta que ninguém ouviu.
Você tenta, por um vão, em vão...A essa altura do campeonato seu bom humor e sua paciência já foram pro espaço...
Tentativa 3: Você só tenta se acalmar e não perder o controle de vez!
Tentativa 4: você tenta encontrar a saída, pega a sua almofada e vai embora.
No caminho para casa você reflete, num misto de decepção e frustração:
Concurso de beleza... O que você assistiu foi um espetáculo de falta de educação. Malditos narcisistas!!! Loucamente apaixonados por si mesmos... O que falta à uns, sobra a outros. Como denominar esse sentimento "demasiadamente excessivo"? Amor próprio ou impróprio?
Que Freud explique porque eu definitivamente não entendo.
E que me perdoem os leitores desse espaço o desabafo, mas aqui a gente fala de educação e educação.
2 comentários:
Olá Elis.
Esse seu relato é muito interessante, e fatos como esses acontecem a todo momento e com uma frequência cada vez maior. O que isso demonstra? Provavelmente, qualquer análise de caráter mais aprofundado, iria ultrapassar o espaço do comentário. Mas gostaria de dizer que achei muito interessante você fazer uma ponte entre seu fato e o mito do Narciso. Esse fato remete a uma falta de respeito, um falta de ética, um não perceber o próximo, como um outro "eu". Talvez pareça meio confuso, mais aqui vejo esse excesso de narcisismo. Pois como você relatou, essa pessoa não consegue perceber o outro que no caso é você. Talvez a pessoa seja totalmente ignorante o que não permite que ela tenha um raciocínio que leve a perceber a sua existência/presença naquele espaço, ou é um sentimento "pior" que remete a um querer tirar do outro, querer se sobre-sair em relação ao outro. Ser narciso e gostar de si é uma dimensão importante para o ser humano, mas preciso haver um equeilibrio, pois caso contrário, não há mais a visão do outro, não há o reconehcimento do outro como sujeito.
Essa sua temática, também pode ser analisada dentro das escolas, entre os docentes, mas isso é tema para outro debate.
Abraços e tudo de bom para você. E como coloquei essa é uma primeira reflexão resumida.
E passa lá no blog apra pegar teu selinho....
Obrigado Luis por tentar elucidar o que acontece com esses seres autocentrados. Escrevendo uma matéria para uma revista esses dias, coloquei sobre a questão da falta de limites na educação das crianças, acho que isso que relatei é um pouco consequência disso. São pesssoas que tão têm delimitado até onde podem ou não podem ir e acabam por invadir o espaço do outro, algumas vezes sem ao menos se aperceber disso, noutras, simplesmente porque não se importam com o seu semelhante. Isso é grave e pode ter consequências muito piores. Fica à vontade para continuar a reflexão, sei que gosta disso. Obrigado pela visita e pelo selinho amigo, sabe que admiro seu trabalho. Abraço.
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