terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Alteridadade e Acessibilidade

Os símbolos que compõem uma identidade social não são construções aleatórias, eles mantêm vínculos com a realidade concreta.
Os conceitos e valores que construímos ao longo da vida dependem fundamentalmente das nossas percepções e do imáginário que construímos resultantes de nossas experiências sociais e coletivas.
Nessa relação com o mundo externo e com a diversidade é que passamos a compreender e vivenciar o conceito de alteridade, imbricada na questão ética do reconhecimento do outro, no reconhecimento das diferenças e do diverso.
A questão da acessibilidade depende pois, dessa capacidade de enxergar-se na pessoa do outro e isso só pode acontecer onde há interação, relação ou contato com grupos diferentes.

Um relato pessoal

Esta semana, através do grupo Educação Especial em Rede conheci a Rita, deficiente visual e sugeri à ela alguns textos deste site. Em resposta, ela diz que havia achado a fonte muito pequena e que isto havia dificultado sua leitura.
Lembrei-me então de um recurso para alteração do tamanho da fonte que já havia indicado mas que se encontrava em local de difícil acesso em meio à outras postagens.
Retornei o email com o pedido de desculpas e algumas considerações à respeito. Já fiz as alterações necessárias. A partir de agora a orientação para alteração do tamanho da fonte está em local visível (no topo da página).

sábado, 24 de janeiro de 2009

SketchUp - Ferramenta adquirida pela Google pode auxiliar pessoas com autismo

Modelo do interior de uma casa criado com o programaRecebi via lista Educautismo uma notícia que achei muito interessante.
Originalmente desenvolvido pela At Last Software(@last software), uma empresa estadunidense com sede em Boulder, Colorado a qual foi adquirida pela
Google, o SketchUp é um software utilizado para a criação de modelos em 3D no computador.
Fiquei curiosa e resolvi testar. Baixei o programa
aqui e fiquei encantada com as possibilidades. É um programa bastante intuitivo e relativamente simples (tudo bem que eu não consegui fazer muita coisa, mas nada que tempo e um pouco de treino não resolvam). Mas as possibilidades de criação em três dimensões são fantásticas. É possível incluir detalhes, texturas, vidro nos modelos, tudo com total perfeição. Outra coisa que achei interessante é a possibilidade de interação com outros programas. É possível, por exemplo, modelar sua cidade para o Google Earth (agora complicou - coisa pra autista mesmo) :-)

Mas, ainda mais interessante é a notícia:

Segundo a revista Newsweek, o programa criado originalmente para arquitetos e designers tem ajudado autistas a desenvolverem habilidades que podem ser úteis caso eles entrem no mercado de trabalho.

O programa permitiria que pessoas com autismo expressassem suas idéias de forma visual - um achado para crianças com problemas de comunicação pela fala ou escrita. A ajuda seria possível, pois grande parte dos autistas se sobressaem em pensamentos visuais. Segundo a revista, em avaliações de QI, pessoas com autismo tendem a ter índices elevados em testes de noções espaciais - pais de crianças com a doença teriam também habilidades espaciais acima da média.

Assim, por terem dificuldades em comunicar-se com outras pessoas, os autistas acabam usando seu tempo interagindo com objetos, o que resulta em um desenvolvimento intenso da parte visual do cérebro - daí a paixão pelo SketchUp. Essa característica é tão intensa que os autistas seriam capazes de desenhar uma perfeita reprodução da cidade, depois de apenas uma breve caminhada pelas ruas. "Achei que fosse um desenhista profissional", teria dito Anja Kintsch, assistente em tecnologia da Boulder Valley School District, após ver uma criança desenhando.

Pessoas com autismo tenderiam ainda a ser apaixonadas por computadores, uma vez que eles não exigirem o tão temido contato humano. A facilidade visual dos autistas teria encontrado uma afinidade tão grande com o software, que a Google, em parceira com instituições educacionais, criou o Project Spectrum. O projeto buscaria, de acordo com a Newsweek, inserir de forma gratuita o programa nas escolas especializadas dos Estados Unidos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Jogo - Aula

Logo Jogo-Aula

O Sérgio da lista Blogs Educativos deu a dica, acessei e vão aí as minhas primeiras impressões:

Jogo-aula é um projeto desenvolvido em parceria com escolas, professores e pedagogos. As atividades (jogos) são desenvolvidas em módulos, sendo que cada um refere-se a uma área do conhecimento.

É uma proposta bastante interessante, visto que reflete o olhar e a reflexão dos professores, acerca dos processos de aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo da criança, fornecendo as bases para a concepção do material que posteriormente é disponibilizado.

Desta maneira objetiva-se proporcionar:

Aos professores: Uma ferramenta didática para auxiliar os seus alunos na descoberta, desenvolvimento e manipulação dos conceitos aplicados em sala de aula através de uma realidade modelada e dirigida, mas flexível o bastante para que possa haver o desenvolvimento do grupo e o individual.


Ao aluno:
A oportunidade de fazer suas escolhas, levantar hipóteses, testar, errar, desenvolver-se dentro de suas próprias possibilidades, contrando no seu grupo e no adulto os parceiros que o apóiam, sugerem e incentivam.
[Fonte: http://jogoaula.blog.br//modules/mastop_publish/?tac=Proposta]

Através de um cadastro o professor pode:
- Enviar mensagens particulares à outros usuários do site

- Participar das discussões do fórum
- Receber as últimas notícias

- Comentar os assuntos

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Campus Party

Logo do Campus PartyConsiderado o maior evento de inovação tecnológica e entretenimento eletrônico em rede do mundo o Campus Party iniciou no último dia 19 e vai até dia 25/01. Li agora no Ciberespaço na Escola que a TV Cultura estará exibindo diariamente 12 horas de programação ao vivo na Internet estreando no evento.

A Lilian, estará nos deixando informados com as notícias relacionadas às tecnologias digitais na educação no Blog do Educarede, que estará fazendo a cobertura do evento.

Para quem se interessa pelo tema: Tecnologias para Acessibilidade e Reabilitação, duas atividades estão programadas para sexta, dia 23 e sábado, dia 24. Outra programação interessante será também no sábado com o tema Padrões Web, Acessibilidade e Mobilidade. (A agenda pode ser acessada no site com todas as programações)

No domingo, dia 25 acontece também a Cerimônia de Entrega do Prêmio Best Blogs Brazil aos melhores blogs em 30 categorias eleitos pelo júri popular e pelos palestrantes do Campus Blog.
Dois colegas do grupo Blogs Educativos estarão sendo premiados. Na categoria educação, a Miriam Salles e na categoria corporativo, o colega Robson Freire

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Mais uma vez Prêmio Dardos

Memes vão e vêm. E fiquei contente, principalmente por ter sido indicada por pessoas por quem tenho grande admiração, apesar de conhecê-las apenas virtualmente, o Robson Freire, do Caldeirão de Idéias, a Bernardete, do Caminhos para Chegar, a Suzana Gutierrez e a Regina Heidrich do Inclusão utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação. É muito interessante percebermos laços de afinidade e amizade se formando na rede, e ter nosso espaço indicado à uma dessas brincadeiras reflete o carinho e o reconhecimento dos colegas blogueiros, mas também reforça nosso compromisso como educadores.
Abaixo, a lista dos meus indicados, com o carinho pela amizade, reconhecimento pelo trabalho e algumas características que captei nesse tempo de convivência com o grupo. Cada um com sua marca e singularidade guarda o que tenho como minha filosofia de vida. Somos todos ESPECIAIS.
Vocês são especiais.

Este Blog é minha Rua, do Franz, o que gosta da boa e velha música.

Caldeirão de Idéias, do Robson Freire, o apaixonado por cinema

Gibiteca da Natania, a dos quadrinhos e vencedora do Prêmio Professores do Brasil

Bloguinfo, da Sindy, a sumida

Letra Viva, do Zé Roig, grande amigo e parceiro no R.E.M - Rapid Eye Movement

Sentrinho da Ilza Medeiros. Na Ponta dos Dedos da Andrea de Carli. Inclusão utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação da Regina Heidrich, colegas de luta em favor da causa da pessoa com deficiência.

Inclusao Ampla, Geral e Irrestrita, de um admirável xiita da inclusão.

Na Dança das Palavras da Leonor Cordeiro, mais conhecida por simpatia.

Quimilokos da química louca e querida, Thaisa

Suzana Gutierrez, a pequena grande.

Luis Dhein, sempre conectado e reflexivo.

Caminhos para Chegar da competente Bernardete, vencedora do Prêmio Professores do Brasil.

Bloguetando Educação do Fernandão ( sonhador como eu)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Realidade Virtual

Capa do livro de José Antonio Klaes Roig Realidade Virtual é o livro escrito pelo amigo e também educador José Antonio Klaes Roig.
Mesclando o surrealismo literário com situações cotidianas o autor propõe em todos os seus contos uma reflexão acerca da realidade em que estamos imersos, ora realidade, ora ficção.
Textos que relatam, instruem, questionam mas também divertem e atraem pela leveza presente no uso das palavras.
Seus escritos tem a sua marca, deixando transparecer sua inquietude, seus sentimentos, desejos e sua visão apurada sobre os acontecimentos, seu compromisso com as mudanças e sua preocupação com as pessoas no sentido mais amplo da palavra, o ser humano e a reafirmação dos seus valores éticos, morais e cristãos.
Uma obra que reflete as experiências de vida de uma pessoa e de um educador consciente e responsável que com todo seu talento e sensibilidade nos faz refletir sobre os rumos da humanidade.
Parabéns Zé. Poder compartilhar destes teus olhares é um convite à aventura de conhecer, pensar e imaginar, é imergir e flutuar, caminhar entre a reflexão e o deleite, o real e o virtual.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Vendedor de Sonhos

Hora qualquer do dia. Debruçada sobre a janela, vejo-o passando pela rua. É um jovem senhor, a barba e os cabelos brancos denunciam. A idade ou as agruras da vida.
Mas é jovem o senhor. O tio de cabelos brancos, que vende doces e cantarola uma melodia qualquer. Ele surge, e lá do finzinho da rua já se pode ouvir a algazarra da criançada lançando-se em disparada em sua direção. A gurizada se põe em volta do carrinho num empurra-empurra tentando garantir o doce preferido. Enquanto o tio, que mantém sempre o olhar sereno de quem sabe como resolver as coisas, tenta acalmá-los. Recolhe as moedas buscadas às pressas em casa, faz o troco e se diverte com a balbúrdia instalada. A criançada se ajeita na calçada e aos poucos vão dividindo os doces, uma mordida de cada um, até experimentarem todos. Ele, senta-se ao lado dos pequenos gulosos.
_Tio, me ajuda montar meu brinquedo!
Ele ajeita os óculos, aproxima o papel com as instruções do brinquedinho que viera grudado no doce, enquanto vai lendo as instruções.
Novamente a criançada se amontoa. O tio, só ri e pede calma. Em pouco tempo, com os brinquedos montados, elas voltam à brincar.
Vejo ali crianças, brinquedos, sorrisos, e sonhos infantis. A coisa mais linda que já vi até hoje. Porque criança sonha sem medo. Sonho de criança tem sempre asas longas, como pássaros que se lançam em vôos rasantes do alto do precipício, conduzidos ao mesmo tempo ao chão e ao infinito.
Agora ele se despede e segue pela rua aquecida pelo sol abrasivo de janeiro. Acho que vendeu tudo. Ele sempre vende. É feliz.
Ficam elas. Enquanto algumas aindam saboreiam suas delícias - doces e brinquedos, outras retomam as brincadeiras interrompidas com o som agudo do apito do tio que vende doces, sorrisos e cantarola cantiga qualquer.
Já de volta, o pequeno Luca, olhos castanhos e bondosos, absorto entre seus pensamentos pueris quer saber:
_ Mãe, onde é a escola pra ser tio que vende doce?
_ Escola pra ser tio que vende doces? Querendo que explique melhor.
_ É. Tem aqui? É que eu quero ser tio que vende doce.
_ Hummm, tio que vende doces - repito tentando ganhar tempo.
Talvez ele esteja tentando dizer: " Mãe onde é a escola que faz gente feliz?"
Respondo que não existe uma escola pra ser tio que vende doce. Existe uma escola que ensina médicos, professores, engenheiros, veterinários, músicos e outras pessoas pra serem o que querem ser. Mas que aprender a vender doces, as pessoas aprendem numa escola diferente, uma escola que não tem paredes, muros, filas, carteiras enfileiradas, sinal, essas coisas. E que nesta escola as pessoas aprendem a vender sonhos e serem felizes.
_ Sonhos! Ah... Legal trabalhar na padaria, também.
Eu rio. Acho que ele é ainda muito jovem pra entender essas coisas. Mas quando crescer eu torço para que seja um bom vendedor de doces. E de sonhos.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Risco do Diagnóstico

Diante de um problema de saúde, qualquer que seja, o importante para a família, antes de qualquer coisa é o diagnóstico. Muitas vezes isso se explica devido à importância do início do tratamento específico.
No entanto, o diagnóstico pode ser um risco. Em se tratando de deficiências ou síndromes, vale dizer, que em muitos casos pode trazer mais prejuízos que benefícios. Isso porque no diagnóstico estão todas as respostas para o problema. Ele é assim ou está assim porque tem isto ou aquilo. Ponto. No diagnóstico, a constatação e a explicação. No diagnóstico o limite. No diagnóstico a culpa. No diagnóstico, o fim.
O texto transcrito abaixo ilustra bem essa situação.
Disbicicléticos
Por Emilio Ruiz Rodriguez
Dani é uma criança que não sabe andar de bicicleta.
Todas as outras crianças do seu bairro já andam de bicicleta; os da sua escola já andam de bicicleta; osda sua idade já andam de bicicleta.
Foi chamado um psicólogo para que estude seu caso. Fez uma investigação, realizou alguns testes (coordenação motora, força, equilíbrio e muitos outros; falou com seus pais, com seus professores, com seus vizinhos e com seus colegas de classe) e chegou a uma conclusão: esta criança tem um problema, tem dificuldades para andar de bicicleta.
Dani é disbiciclético.
Agora podemos ficar tranqüilos, pois já temos um diagnóstico. Agora temos a explicação: o garoto não anda de bicicleta porque é disbiciclético e é disbiciclético porque não anda de bicicleta.
Um círculo vicioso tranqüilizador.
Pesquisando no dicionário, diríamos que estamos diante de uma tautologia, uma definição circular. "Por qué la adormidera duerme? La adormidera duerme porque tiene poder dormitivo". Pouco importa, porque o diagnóstico, a classificação, exime de responsabilidade aqueles que rodeiam Dani. Todo o peso passa para as costas da criança. Pouco podemos fazer. O garoto é disbiciclético! O problema é dele. A culpa é dele. Nasceu assim. O que podemos fazer?
Pouco importa se na casa de Dani seus pais não tivessem tempo para compartilhar com ele, ensinando-o a andar de bicicleta. Porque para aprender a andar debicicleta é necessário tempo e auxílio de outras pessoas. Pouco importa que não tenham colocado rodinhas auxiliares ao começar a andar de bicicleta. Porque é preciso ajuda e adaptações quando se está começando.Pouco importa que não haja, nas redondezas de sua casa, clubes esportivos com ciclistas com quem ele pudesse se relacionar, ou amigos ciclistas no bairro que o motivassem. Porque, para aprender a andar de bicicleta não pode faltar motivação e vontade de aprender. E pessoas que incentivem! Pouco importa, enfim, que o garoto não tivesse bicicleta porque seus pais não puderam comprá-la. Porque para aprender a andar de bicicleta é preciso uma bicicleta. (Felizmente, os pais de Dani, prevendo a possibilidade de seu filho ser disbiciclético, preferiram não comprar uma bicicleta até consultar um psicólogo.)
Transportando este exemplo para o campo da síndrome de Down, o processo é semelhante. Desde quando a criança é muito pequena, apenas um recém-nascido,é feito um diagnóstico – trissomia do cromossomo 21 – por um médico especialista, e verificado, com uma prova científica, o cariótipo. A partir disso, entramos emum círculo vicioso no qual os problemas justificam o diagnóstico, o qual, porsua vez, é justificado pelos problemas.
Por que a criança não cumprimenta, não diz bom-dia quando chega, nem adeus quando vai embora? "É que ela tem síndrome de Down". Ah, bom! Achei que era mal-educada. Por que a criança não se veste sozinha, e sua mãe a veste e despe todos osdias, se já tem oito anos? "É que ela tem síndrome de Down". Ah, bom! Pensei quenão lhe tinham ensinado.Por que continua a tomar mamadeiras se já tem seis anos? "É que ela tem síndromede Down". Ah, bom! Imaginei que era comodismo de seus pais. Por que a criança não sabe ler? "É que ela tem síndrome de Down". Ah, bom!Pensei que não lhe haviam ensinado. Por que não anda de ônibus ? "É que ela tem síndrome de Down". Ah, bom!Pensei que não lhe permitiam fazer isso.
E, assim, uma lista interminável de supostas dificuldades que, por estarem justificadas pela síndrome de Down, não necessitam de nenhuma intervenção, alémda resignação. Todas as suas dificuldades se devem à síndrome de Down. Podemos estender a qualquer outra deficiência em que o diagnóstico médico ou psicológico possa ser utilizado como desculpa para nos eximirmos de responsabilidades. Se classificamos a criança como disfásica, disléxica, discalcúlica, disgráfica, deficiente visual ou auditiva, mental ou motora, disártrica ou simplesmente disbiciclética, estamos fazendo algo mais do que"colocar um nome" no que pode acontecer com uma criança. Estamos criando expectativas naqueles que a cercam.
Por isso, eu sugiro que antes de comprar uma bicicleta para seu filho ou sua filha, comprove que não sejam disbicicléticos. Não vá que aconteça imediatamente após a compra dar-se conta de que se jogou dinheiro fora.