Idealizado e criado pelo pedagogo alemão Friedrich Wilhelm August Froebel, os jardins de infância, deveriam ser locais de proteção e cuidados. As crianças eram consideradas o gérmen da humanidade e necessitavam, desde pequeninas, dos cuidados como em um jardim, por isso o nome Kindergarten. A expressão se impôs em todo o mundo, inclusive no inglês. As crianças eram consideradas plantinhas de um jardim, cujo jardineiro era o professor. Longe de pretender qualquer questinamento, até porque suas idéias continuam vivas e são referências para o trabalho educativo com crianças pequenas ainda hoje, me coloco a pensar se Froebel estivesse vivo nos dias de hoje. Talvez ele falasse mais da curiosidade das crianças numa era que se intitula tecnológica, numa era em que as crianças não brincam mais de bulica, queimada, pular corda, passar anel, carrinho de rolimã... mas que brincam com modernos vídeo games, passam horas em frente à televisão, acompanham notíciários, acessam internet e são capazes de discutir com propriedade vários assuntos. Talvez ele enfatizasse mais o papel do professor e da escola de educação infantil em tempos de novas concepções de criança, família conhecimento, sociedade.
O que estou pretendendo dizer e que considero preocupante é a forma como algumas escolas e/ou professores vêem a educação infantil. Fruto de uma má interpretação e de raciocínios simplistas sobre o que significa a educação na infância algumas destas passam a incorporar de fato a idéia de criança como uma florzinha que carece apenas de cuidados e de alguns poucos ensinamentos, que muitas vezes acabam virando mais ocupações do que propriamente, aprendizado, horas de trabalho árduo: bolinhas de papel, massa de modelar, máscaras de coelhinhos, saci, ou seja lá o que for.
O que se tem verificado, na prática, é que tanto os cuidados como a educação têm sido entendidos de forma muito estreita. Cuidar, tem significado, na maioria das vezes, realizar as atividades voltadas para os cuidados primários. Mais que isso, é necessário criar ambientes alegres, bem aparelhados, organizados para oferecer experiências instigantes e desafiadoras, adequadas às crianças de cada idade.
Froebel defendia uma educação sem obrigações para as crianças, que, para ele, aprendiam conforme seus interesses e por meio da prática.
O caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu interior e perseguir seus interesses. Froebel adotava, assim, a idéia contemporânea do "aprender a aprender". Para ele, a educação se desenvolve espontaneamente. Quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela é receptiva a novos conhecimentos. O ponto de partida do ensino seriam os sentidos e o contato que eles criam com o mundo. Portanto, a educação teria como fundamento a percepção, da maneira como ela ocorre naturalmente nos pequenos.
A criança pequena necessita de atenção, cuidados e proteção sim, mas precisa também de um espaço de pesquisa, de construção de conhecimentos, de uma escola que dê vazão para suas idéias e igualmente para suas dúvidas, curiosidades e interesses de uma forma lúdica e atrativa. Questiono porém, um outro viés, igualmente equivocado onde professores de educação infaltil, forçosamente inserem as crianças em processos de alfabetização ou numeralização precoces, num falso discurso que esta ocorre de forma espontânea. São comuns aí as atividades com lápis e papel, os trabalhos realizadas na mesa, o cerceamento do corpo, as rotinas repetitivas, pobres e empobrecedoras, desconsiderando-se uma fase em que predominam o sonho, a fantasia, a afetividade, a brincadeira.... Acredito que o ato de escrever deve ser cultivado e não imposto, pois é necessário que as letras se tornem elementos da sua vida, da mesma maneira que a fala, mas acredito principalmente que qualquer que seja a proposta esta deve respeitar a maturidade, a necessidade e se tornar objeto de prazer e interesse da criança.
Que tenhamos consciência da nossa importância enquanto educadores da infância e, reconheçamos que a sabedoria não se encontra no topo de um curso de pós-graduaçao, mas no montinho de areia da escola de todo dia. Não conheço a autoria, mas tem uma reflexão narrada por Pedro Bial que acho bastante interessante: JARDIM DE INFÂNCIA
7 comentários:
Excelentes reflexões Elis! Na primeira reunião da escola agora no fim de janeiro vou mostrar as meninas!
O aspecto lúdico da construção espontânea, da criação por parte dos pequenos é muito importante e nunca pode ser posta em 2º plano.
bjs
Olá Elisangela.
Muito boa a sua reflexão. Que aborda de fato vários equivocos que estão ocorrendo na educação infantil. Você deve "quase" estranhar, um homem falando de educação infantil.
Sou um simpatizante das idéias de Froebel e acho que ele realmente era um visionário, olhando para sua época.
E, acredito que desde cedo é preciso proporcionar para a criança um ambiente interativo e lúdico para a construção. Você dentro de seu texto faz apontamentos que me lembram as tias que cuidavam das crianças. Claro que o cuidar é importante mais a educação infantil não se deve fechar a somente cuidar.
Abraço e mais uma vez, muito bom seu texto.
Oi Eli!
Certamente este arqivo " Para Além dos jardins de Infância" foi fruto de muita inspiração sua!
Acreditamos que nossas intenções quanto a melhoria de qualidade de ensino passe justamente por essas questões. A educação de qualidade necessita sempre de reflexão como essas!
Compreender e dar condições de que toda a estrutura educacional passe literalmente pelas etapas de desenvolvimento Infantil. Aprender aprendendo de forma lúdica é importante acima de tudo compreender o sentido disso!
Parabéns !
Adorei seu blog sobre educação especial. Indiquei para alguns amigos que fazem pedagogia..
Estou de férias e voltarei na semana que vem a postar. Obrigado por ler meu blog.
Bruno
Achei o texto interessante e vou repassá-lo para os professores da educação infantil da minha escola.
Um abraço!
Oi Elisangela.
Quero te convidar a visitar esse post que fiz, em relação a uma reflexão histórica da infância.
http://luisdhein.blogspot.com/2008/01/menoria-da-infncia.html
Abraço
Oi Profe Elis
Adorei seus espaços, muito criativos e voltados para uma àrea que requer toda nossa atenção: a educação nfantil.
Apesar de meu eixo ser EF, EM E ES, devemos cuidar da criança não como uma lousa em branco ou como um ser desprovido de idéias ou pré-julgamentos. Concordo plenamente contigo, respeitando a integridades e a inteligência da criança poderemos despertar nela não somente o prazer em estudar , mas o bem estar em se integrar à própria sociedade.
Abraços
Semíramis
http://educandooamanha.blogspot.com
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