Seria cômico, se não fosse trágico... Já não me recordava desse acontecimento desde que saí do interior para a cidade. Vilazinha de aproximadamente 4 mil habitantes, tipicamente agrária. Na grande maioria, homens que se dedicam ao trabalho com a agricultura e mulheres donas de casa. Uma vila que concentra boa parte de seus moradores numa faixa de idade mais avançada, já que muitos dos jovens procuram cidades vizinhas para estudar e buscar emprego. Todos os anos nessa época, acontece lá a tradicional festa em honra a São Sebastião, santo padroeiro da paróquia e a partir da qual narro estes fatos. Bom, o fato é que a igreja com duas fileiras de bancos, é ocupada de um lado por mulheres, de outro pelos homens. Isso mesmo, homens e mulheres ao chegarem na igreja se dividem, e o mais interessante de tudo isso é que ninguém se questiona por que as coisas são assim, sendo que tais comportamentos são assimilados como próprios, como naturais. De onde surgiu isso, não sei responder, só sei que desde que me conheço por gente é assim. Fiquei me questionando se isto seria uma condição dada pela própria igreja, talvez nos tempos de antigamente e que perdurasse até hoje, ou se seria fruto de uma cultura que sempre colocou homens e mulheres em diferentes papéis e destaques e que continuaria sendo reproduzida ali, ou ainda, o fato de que durante muito tempo a mulher foi considerada como impura, condição esta também presente num campo mais simbólico no fato de qualquer homem que se aproxime de uma mulher estará consequentemente inapto para o exercício do celibato.... Por coicidência estava fazendo a leitura de um livro onde em um dos capítulos Perrot, historiadora francesa, afirma que as mulheres, sendo constantemente interpeladas, exortadas pelas autoridades que detém o poder, são o alvo de um discurso normativo que, insistindo sobre o que devem ser, contribui para mascará-las e velá-las em seu ser o que é justificado também pelo discurso de Foucault no qual o poder e a dominação revestem, no mundo moderno, a forma de um "disciplinamento" imposto. Fiquei pensando agora o quanto a cultura é forte e impregnada nos nossos seres...Em tempos em que os papéis de homens e mulheres estão sendo resignificados, na vila em que nasci os papéis parecem não ter mudado.
4 comentários:
Oi Elisangela
Me lembrei de uma igreja evangélica lá da praia (acho que era Assembléia de Dues) onde havia esta divisão e era uma norma. Minha família é metodista (metade dela) e, na ausência de uma igreja metodista foram ao culto nesta outra igreja e relataram esta divisão.
Se a gente for consultar a bíblia vai encontar algo parecido nas sinagogas, nas quais as mulheres não podiam se manifestar e ficavam num espaço à parte.
A presença da mulher em certos espaços (nos esportes teve uma grega que foi condenada a morte por se vestir de homem para poder ver o filho competir) é sempre regida pela cultura e pela luta.
abraços!
Oi Elis
Se serve de consolo, já vi muito disso aqui no interior do Rio Grande do Sul. Não sou católica e vou pouco a igrejas, mas nas festas católicas que acontecem nas "colônias" da minha cidade ainda é assim: homens e mulheres em lados opostos. Só falta encontrar os padres rezando de costas para os fiéis!!! Meu pai conta que era assim no tempo dele...
Mas sempre me questiono sobre o poder que a igreja ainda tem sobre as pessoas. Na maioria das vezes é uma fé cega, onde as pessoas reproduzem comportamentos sem ao menos refletir o porquê daquilo.
Acho que é por isso que fugi da catequese...
Abçs
Sintian
Oi Elisangela
Vi que o slideshare não ficou legal na página. Aqui:
http://www.slideshare.net/jprsantos/tutorial-slideshare-partilhe-as-suas-apresentaes/
tem um tutorial bem bom para te ajudar a fazer os sliedes e colocar no blog.
abraço!
Pois é Su, você acredita que até agora to lidando com esse slide...o problema é que quando o slide termina de carregar, interrompe o carregamento da página, pode? Tive que retirar, porque não consegui descobrir porque isso acontece.
Abraço.
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