segunda-feira, 22 de junho de 2009

Enquanto isso no país dos normais

(Sem tempo para escrever, reproduzo alguns rabiscos)

Todo dia ele cumpre o mesmo ritual. Chega, dá uma volta no pátio sem nunca mudar a direção. Não se apressa, nem altera o semblante. Ele não se encaixa em nenhum padrão de normalidade, mas é feliz. Vive num mundo que é só seu e no qual imagino que nunca poderei adentrar, muito menos entender.

Aos olhos de alguns ele vive enclausurado em seus próprios pensamentos, os meus ousam ver nele uma pessoa mais livre do que muitos.

A mãe passou a vida a perambular pelas ruas mendigando esmolas e algumas carícias dos bêbados que descançavam nas praças da cidade.

Ele, viveu o infortúnio de ser mais um abandonado a viver de migalhas, até ser acolhido e ter uma vida decente, embora já fosse tarde, tarde demais para ousarem fazer dele uma pessoa "normal".

Mas é feliz. Ele não se preocupa se a roupa que veste está na moda, se os cabelos brancos denunciam sua idade, se seu comportamento vai ser aprovado, se vão achá-lo um tolo feliz, um pobre coitado, se vão rir do seu jeito de dançar, se vão achar estranho que fale dele pra ele mesmo... Ele não entenderia por que nessa sociedade tão organizada e normal nem sempre se pode ser autêntico.

Ele não segue fórmulas prontas de comportamento. Pra falar a verdade ele nem as conhece. Inventou um jeito próprio de viver e vive num eterno processo de desnormalização como se no mundo só existisse uma forma de ser: a sua. Talvez ele prefira não ser mais um, genérico, normal ou normótico. De cara limpa, desfez-se das máscaras e encontrou a fórmula para uma vida saudável e feliz.

Enquanto isso no país dos normais, seres humanos inteligentes, livres e iguais assistem a belíssimos espetáculos teatrais! Bem vindo ao país do "faz de conta."

Faz de conta que eu sou como você, que gosto de festas e de glamour, que eu tenho dinheiro pra manter as aparências, faz de conta que eu me mantenho firme nas minhas verdades e fiel às minhas convicções mesmo quando minhas idéias não estão de acordo com as do chefe da minha empresa, faz de conta que a minha boca fala exatamente o que meu coração sente, faz de conta que sou sempre equilibrado, que nunca perco o controle, que eu não uso máscaras exceto nos bailes à fantasia. Faz de conta que...

Faz de conta que eu sou feliz assim.

sábado, 16 de maio de 2009

Mundo Adaptado

Exerciciozinho básico de alteridade



[Vídeo: You Tube, artigo e textodescrição: Cris Santos, disponível no Bengala Legal
Anúncio: Companhia de Eletricidade da França.]

Textodescrição: Cena 1.

Começamos vendo uma rua movimentada com uma mulher de pé, perdida como uma "barata tonta", sem saber para onde ir direito. Em volta dela, muitas pessoas na calçada passam direto pelos seus lados sem lhe dar atenção. Ela parece querer pedir algum auxílio, mas mal percebem sua presença. Todas essas pessoas, ao contrário da primeira mulher, são cadeirantes.


Cena 2:

Vemos um estabelecimento (parece uma repartição pública) com quatro postos de atendimento. Em um dos postos, um cadeirante é atendido, enquanto outro aguarda sua vez. No outro posto, uma mulher se aproxima e pede uma informação (em francês). O atendente então responde usando a língua de sinais e ela dá uma leve risada, meio sem graça, por não entender nada.


Cena 3:

Dia chuvoso. Em uma rampa inclinada sobem e descem cadeirantes normalmente, enquanto uma pessoa de pé desce escorregando, totalmente sem equilíbrio e desajeitada, tentando não cair.


Cena 4:

Ainda em dia chuvoso, vemos uma pessoa usando um guarda-chuva, meio "arriada" para usar um telefone público que encontra-se em uma altura própria para cadeirantes. Ao seu lado, um cadeirante usa sem problemas outro telefone público, enquanto, do outro lado da rua, uma criança cadeirante aponta para a pessoa arriada.


Cena 5:

Vemos em close um sinal luminoso de pedestres, que tem como símbolo de "ande" o ícone de um cadeirante simulando movimento, na cor verde, e como símbolo de "pare" o ícone de um cadeirante parado, na cor vermelha. Sobre esse sinal luminoso vemos um pequeno alto-falante. O sinal "abre" para a travessia de pedestres e o close é tirado dele. Vemos então dois cadeirantes atravessando a rua, conversando animadamente debaixo da chuva.


Cena 6:

No interior de uma biblioteca, onde todos os livros têm capas iguais, um rapaz de óculos (com ar de intelectual) desvia de uma menina cega que anda entre as estantes sem maiores problemas, com a ajuda de sua bengala. O rapaz pega um dos livros e o folheia sem entender, como se estivesse procurando algum texto ou imagem, mas o livro está impresso em Braille. O rapaz, então, senta próximo à janela, com o livro no colo e olha para o horizonte. Aparece na tela a frase: "O mundo é mais duro quando não está adaptado para você", enquanto a narradora fala: "De agora em diante, os espaços da EDF são acessíveis a todos". Essa última frase aparece junto à logomarca e o slogan da EDF: "Quando seu mundo se ilumina". A EDF é a empresa de distribuição de energia elétrica da França, chamada "Eletricidade da França".

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Educa Tube

banner ilustrativo do blog EducatubeO Educa Tube é um espaço que, segundo o editor José Roig, visa divulgar vídeos e material diverso que possa ser utilizados por educadores no meio escolar, bem como divulgar a produção de educadores e alunos.

As informações disponíveis na rede são tantas que por vezes acabamos não encontrando o material de que necessitamos. Achei bacana a ideia de estar reunindo vídeos com caráter educacional, os quais poderão ser utilizados pelos educadores dentro de suas respectivas disciplinas. José Roig, como parceiro exibidor do Porta Curtas Petrobras também vem disponibilizando os vídeos desse acervo, com material riquíssimo para se trabalhar.

Vale conferir.

sábado, 9 de maio de 2009

Oração aos moços (de hoje)

Trechos de Oração aos Moços - Obra de Rui Barbosa, escrita em 1920.

“Não há no universo duas coisas iguais. Muitas se parecem umas com as outras; mas todas entre si se diversificam. Os ramos de uma só árvore, as folhas da mesma planta, os traços da polpa de um dedo humano, as gotas do mesmo fluído, os argueiros do mesmo pó, as raias do espectro de um raio solar ou estelar. Tudo assim, desde os astros do céu, até os micróbios no sangue; desde as nebulosas nos espaços, até os aljôfares do rodo da relva dos prados...

..Se o supremo criador de todas as coisas, na sua imensa sabedoria, assim organizou a ordem da criação, e plasmou nas multifárias facetas de seres criados a suprema harmonia do universo na diversidade de formas, não era para com isso dar aos homens, coroa dessa criação, a grande lição da solidariedade e da convivência entre os diferentes? Se a ordem universal convive com as diferenças em harmonia, e cada corpo celeste em perfeita ordem com os demais, por quê não os Homens? ”

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A escola forma gente para o futuro ou para passado? (Compilando Ideias)

"Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo"...

Não me recordo de quem é a frase nem onde li. Ela me veio enquanto pensava sobre o quão importantes são os conhecimentos gestados coletivamente. A propósito, acho que conhecimento só se produz coletivamente.

É a linguagem que dá à todos nós, desde a mais tenra idade, a dimensão da nossa existência. Ela nos constitui tanto quanto nosso corpo físico. A experiência de estar em rede nos proporciona diariamente a oportunidade de estender os limites desse nosso mundo, que vai alargando, encompridando, conforme vivenciamos processos de interação e construção participativa do conhecimento. Tenho lido muita coisa boa nestes últimos dias, conhecimento que parte de nossos questionamentos, indagações, reflexões, contradições, enfim... de tudo aquilo que povoa nossas cabeças, nos inquieta e que nos constitui como ser humano e educador.

A questão levantada pelo Robson Freire que dá o título à esse e ao post anterior, provocou e a mim continua provocando algumas sinapses. (voltando a falar em linguagem, comunicação... Neurônios também trocam ideias e são super conectados) :-)

Bom, compilei aqui algumas ideias que meus colegas andaram tendo e que acompanhei pelo reader. Alguns falam por mim, alguns deixaram meus neurônios em polvorosa.

Seguem:

Crises enfrentadas de forma criativa, significam pontos de reorganização e melhoria. É preciso que os alunos reconheçam que a escola é um lugar essencial para a realização humana em toda sua complexidade.
Um trabalho didático que leve em conta a cultura em que a escola se insere, o tipo de vida dos alunos, e a visão de mundo que eles possuem neste contexto.
Trata-se de uma mudança de postura. De dentro para fora. Não basta repetir discursos. Pode-se começar amanhã, ao entrar em sala de aula e olhar no olho do aluno. Pode-se escolher apenas um. Talvez aquele que dê "mais trabalho". (Jenny)

  • Ruptura e Reinvenção da Escola - Política da Terra Arrasada. Repensar completamente a escola em outros termos. É o caminho, conceitualmente mais simples e ao mesmo tempo de implementação prática mais difícil! Requer dirigentes com aquilo roxo, vontade política e esforços sincronizados de professores, dirigentes e políticos, e o que é pior, é uma solução de médio e longo prazo. Pra uma ou duas gerações!
  • Reforma e Contra-Hegemonias Locais das Práticas Escolares - Quase sempre este é o caminho possível para quem não tem poder de decisão de políticas educacionais (eu e você que estamos no dia-a-dia da Escola). É complicado porque vivemos dentro de superestruturas rígidas e todo e qualquer movimento contra-hegemônico é doloroso e trabalhoso. Com muitos refluxos! (Sérgio Lima)

  • Será que devemos concluir que a Escola é, por essência, conservadora e resistente à mudança?
  • Devemos concluir que a tecnologia por si só não interfere nos hábitos humanos?
  • Devemos mudar as formas metodológicas de abordagem do problema?
  • Será que o problema é pertinente?
  • Será que há muito discurso e pouca ação?
  • Trabalhar por projetos seria uma solução viável?
  • Há um comodismo generalizado por parte dos docentes?
  • Não seria melhor derrubar tudo e começar do zero? (Robson Freire)

Para muitos professores a solução está na urgente mudança no/do currículo escolar. Eu também cheguei a defender uma mudança de currículo como forma de reinventar o ensinar-aprender mas, numa sociedade globalizada, num mundo internacionalizado como o que vivemos, que currículo, por melhor que seja, vai atender suas necessidades? O currículo continua composto de fragmentos e fundamentado no classicismo cartesiano. Traz blocos de conteúdos considerados necessários à formação do cidadão, delimita as estratégias de ensino-aprendizagem, estipula o método e critérios de avaliação, e mesmo que o discurso diga que o currículo é flexível, o que a escola quer é uma agulha apontando sempre numa mesma direção, pois ninguém consegue seguir uma bússola desorientada. Em verdade, poucos sabem o que significa um currículo flexível.... Porque se for flexível demais o professor corre o risco de não saber o que fazer, o pessoal técnico pedagógico não saber que rumo tomar, o aluno não se sentir orientado etc. (Franz)

O uso adequado das tecnologias e condições de interagir com as máquinas é, sem dúvida, essencial. Mas o nosso presente exige mais do que isso. O presente exige que essas cabeças pensantes, que pegam uma informação e a transformam em conhecimento, tenham uma nova postura diante da vida. A escola precisa, com urgência, introduzir uma cultura de sustentabilidade e da paz. O presente já exige que as pessoas sejam mais cooperativas e menos competitivas. O presente exige que a escola eduque para a vida sustentável, como explica Moacir Gadotti:

Vida sustentável é o estilo de vida que harmoniza a ecologia humana e ambiental mediante tecnologias apropriadas, economias de cooperação e empenho individual. É um estilo de vida intencional, que se caracteriza pela responsabilidade pessoal, pelo serviço aos demais e por uma vida espiritual significativa. Um estilo de vida sustentável relaciona-se com a ética na gestão do meio ambiente e na economia, com vistas a satisfazer as necessidades de hoje em equilíbrio com as necessidades das futuras gerações. (Miriam Salles)



É isso, queridos leitores. Se eu formo um sujeito pensante, independente do conteúdo específico adquirido na escola, ele, quando adulto, terá condições de buscar os conhecimentos que lhe são importantes, de forma crítica e reflexiva.
Acredito que, independente dos assuntos discriminados em uma grade curricular, os professores hoje têm de se apropriar dos seus conteúdos específicos, interagir com as informações e conhecimentos que rondam a nossa sociedade e levar para a sala de aula todo tipo de questão que promova a reflexão sobre o mundo em que vivemos. (Tati)

terça-feira, 21 de abril de 2009

A escola forma gente para o futuro ou para passado?

Idealizada pelo Robson Freire, editor do blog Caldeirão de idéias esta blogagem coletiva propõe refletir sobre a questão "A escola forma gente pro futuro ou pro passado?

Penso que uma pergunta é essencial para responder à essa questão: Pra que serve o conhecimento produzido pela escola?

Várias poderiam ser as respostas, mas penso que duas basicamente, possam demonstrar a dicotomia existente entre educar para o passado ou educar para o futuro.

O conhecimento produzido pela escola é um pacote de informações que o sujeito precisa para passar de ano, no vestibular, conseguir uma vaga em um concurso público e preparar-se pra concorrência brutal presente nas sociedades modernas.

Se esta é a era da informação talvez esse professor estivesse à beira de perder seu espaço. Ou seja, ele foi muito útil quando detinha o controle de boa parte das informações. Hoje esse controle não mais faz sentido, uma vez que está em todo lugar. Se antes já não não fazia, ainda menos, agora.

Ou...

O conhecimento produzido pela escola capacita o indivíduo para viver em sociedade - seja no campo ou na metrópole - respeitar as diferenças, dominar saberes teóricos, técnicos, humanos, ser crítico, criativo, autônomo, flexível, tolerante e utilizar-se desse conhecimento visando seu aprimoramento, o progresso e o bem estar das pessoas.

Educar nesse sentido, significa desenvolver no indivíduo competências que não sejam necessariamente competências vinculadas à perspectiva de mercado que domina hoje toda a sociedade. Mas que seja capaz de produzir um esforço coordenado entre competências, informações e novos saberes e onde o trabalho coletivo, solidário e ético possa mudar os rumos do planeta. Nessa mesma linha, a escola deve valorizar o conhecimento cotidiano, pois este conhecimento provoca rupturas na escola. Não devem ser conhecimentos marginais e turísticos, mas centrais dentro do currículo.

Mudanças que não são simples e que dispendem esforço concentrado de vários segmentos da sociedade, por isso tão difíceis devido à burocratização do ensino. Começar. Ser o pássaro que leva gotas de água no bico para apagar o incêndio talvez seja, ainda, a opção mais consciente.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Escolas e leitos de Procusto

A inclusão de alunos com deficiência às classes regulares, com poucas exceções é ainda uma experiência bastante difícil. No entanto, essa dificuldade não reside apenas na deficiência, mas também e principalmente no fato de a escola se configurar como uma estrutura altamente rígida. A escola não foi projetada para a diferença. A dificuldade maior nao está, portanto, no aluno e sim no projeto de educação que desenhou uma escola para os iguais. Na base desta rigidez, está a ideia errada de que todos partem das mesmas condições e que todos têm a oportunidade de chegar ao mesmo ponto se seguirem pelo mesmo caminho.

Na mitologia grega há um mito conhecido como Leito de Procusto, que relata o seguinte:

Procusto era um salteador de estradas. Na altura do caminho em que ele se instalava, julgava quem poderia fazer a travessia. Para realizar o julgamento, Procusto dispunha de um leito, no qual ordenava que ali se deitasse todo aquele que desejasse cruzar a estrada. Se porventura, o indivíduo não coubesse na medida exata da cama, sem titubear, ele esticava o pretendente ou cortava-lhe as pernas para que tivesse, então, o tamanho ideal. Triste era a sorte daquele que não coubesse no leito de Procusto. A mutilação ou o suplício, era o seu castigo. Não haveria perdão, nem desculpas. A lei posta que estava, não dava chances a ninguém.

Vivenciar a diferença não é uma experiência aceitável para nossa cultura. Assim como Procusto possuía seu leito implacável, desta forma possuímos também, um senso de julgamento que, não raras vezes, mutila, senão fisicamente, mas psicologicamente, aquele que se atreve a fugir dos padrões estabelecidos


É provável que o insucesso de muitos alunos, resulte do fato de a escola lhes oferecer uma cama única e lhes cortar o corpo e a alma à maneira de Procusto. E isto não deve recair apenas sobre a figura do professor, pois é resultado da força de relações diversas que ali se estabelecem.


Possibilitar à todos, meios de acesso e permanência com qualidade às instituições de ensino é o grande desafio que se configura, e isso requer da escola abandonar verdades cristalizadas e abrir-se à novos paradigmas educacionais, em mudar, rever conceitos, em desaprender, antes mesmo de ensinar... Pra que a escola não tenha o mesmo triste fim de Procusto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

QUANDO O DOUTORADO É DISPENSÁVEL

Hoje o tempo não me permite mais que isto: Um post do Marcos Meier de quem sou fã, [só não pedi autógrafo ainda porque não faço exatamente o perfil tiete] :-) e infelizmente seu livro que deveria vir autografado, acabou não vindo. Super recomendado, o livro Mediação da Aprendizagem escrito em parceria com a Sandra Garcia.

O post:

**QUANDO SE TEM DOUTORADO

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, (Linneu, 1758) isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e restas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto, que ocorre no líquido nutritivo da alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera.(Linneu, 1758) No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena capacidade de deformação que lhe é peculiar.

**QUANDO SE TEM MESTRADO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando- se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente o paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.. Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em
conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

**QUANDO SE TEM GRADUAÇÃO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando- se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas; todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

**QUANDO SE TEM ENSINO MÉDIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel, porém não muda de forma quando pressionado.

**QUANDO SE TEM ENSINO FUNDAMENTAL

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

**QUANDO NÃO SE TEM ESTUDO

Rapadura é doce, mas não é mole, não!*

[Quando o conhecimento afasta as pessoas, prefiro ficar na rapadura]

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A Escola Mata a Criatividade?

A professora Suzana Gutierrez postou no seu blog dois vídeos de Ken Robinson, com o tema: A Escola Mata a Criatividade?





A primeira idéia que me vem à cabeça é que sim. Apesar de apregoar o contrário e de ter este ítem tão belamente exposto em seus objetivos educacionais, a escola está muito mais para estimular a reprodução do que a criação.

Que o ser humano é dotado de uma capacidade criativa e inventiva fantástica, isso é inegável. Capacidade esta que com o passar do tempo acaba sucumbindo diante do pouco estímulo ou do treinamento que condiciona mentes e inibe o poder criador.

O que denominamos nas crianças de mania de inventar moda nada mais é do que um arsenal de idéias criativas colocadas em prática diariamente.

Mas essa criança precisa ir pra escola. Lá existem regras, um planejamento a ser seguido e conteúdos a serem trabalhados. Ah! E não é permitido inventar muita moda! Lá, antes de serem crianças, estes serzinhos são alunos (sem luz) portanto precisam aprender e apreender muitas coisas que ainda não sabem. Precisam entender conceitos, colar bolinhas de papel, pintar máscaras de coelhinho da páscoa e obedecer as regras. Em algumas destas escolas, elas não aprendem quando ficam curiosas, porque as curiosidades são divididas em períodos e não importa se quando a professora for ensinar elas não estejam mais interessadas ou já tenham aprendido aquilo sozinhas.

Quanto mais crescem mais elas param de inventar moda. Não porque elas não gostem. Elas ainda gostam muito, mas deixam de lado porque entendem que precisam aprender as coisas importantes que se aprende nas escolas. A aula de artes e educação física são as que elas mais gostam porque nessas aulas elas ainda podem inventar moda.

Entendem também que os professores que ensinam as coisas mais importantes são rigorosos. Mas são muito inteligentes, mais até do que os professores de educação física e artes, então elas se dão conta que não dá para ser alguém na vida fazendo arte ou inventando moda, que para conseguirem isso, precisam estudar muito e aprender muitas curiosidades. Embora elas já não tenham muitas, o professor tem e vai ensiná-las e quando perguntar, devem repetir exatamente da forma que o professor (iluminado) falou. Elas aprendem muito rápido que não é bom pensar diferente do professor, e que basta pensar igual para tirar uma boa nota na prova. Então elas desaprendem a ter idéias.

Alguns alunos não aprendem as coisas importantes, mas eles são muito bons em fazer arte. Aí eles ficam fazendo arte na mesma série, porque quem gosta de inventar moda e não aprende as coisas importantes não pode passar de ano. As vezes, os alunos que demoram a aprender as coisas importantes vão para outra escola onde lá se faz muita arte e as coisas importantes são ensinadas de um jeito diferente.

As crianças adoram estas escolas porque lá elas se sentem tão importantes quanto os colegas que aprendem coisas importantes muito rapidamente nas outras escolas, lá elas aprendem que todas as coisas são importantes e elas não sentem-se diferentes, porque lá, todos são diferentes.

Algumas das escolas que ensinam coisas importantes estão aprendendo a trabalhar com os alunos que gostam de inventar moda e com aqueles que precisam aprender coisas importantes de outras formas.

E nessas escolas está acontecendo uma coisa muito interessante. As crianças que aprendem coisas importantes muito rapidamente estão ajudando as outras a aprenderem também, estas, por sua vez estão ensinando uma coisa tão importante quanto as coisas importantes que elas já sabiam, estão mostrando que as pessoas não são todas iguais como elas pensavam. E que coisas importantes não são só as coisas que enchem suas cabeças.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Porta Curtas Petrobras

Dica rápida:

Estive visitando o Porta Curtas Petrobras. O sítio traz um projeto exclusivo para educadores, o Curtas na Escola
. A idéia é incentivar o uso de curta metragens brasileiros como material de apoio em sala de aula.

Pedagogos especializados dão sugestões sobre como utilizar os filmes para disciplinas específicas, que temas transversais abordar, para que idades e níveis de ensino os curtas são indicados e muito mais.

O Planeta Educação traz também algumas indicações e downloads de curtas que o professor pode utilizar-se em sala de aula.

Vale conferir.

domingo, 8 de março de 2009

Pelo Fim do Dia da Mulher

Ainda comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Ainda existem dias para lembrar das minorias silenciadas que, à exemplo de outros tantos, servem para reforçar uma condição de inferioridade cristalizada no imaginário das pessoas.
Quem sabe daqui há alguns anos ninguém precise mais escrever sobre isso. E que bom seria, se ninguém mais precisasse"comemorar" esse dia. Bom seria, se isso fosse uma coisa natural a ponto de que não mais precisássemos falar ou bradar conquistas. Que falar sobre os direitos da mulher fosse coisa desnecessária, ultrapassada, incoerente... Que as mulheres não mais recebessem flores ou homenagens. Ou que então recebessem, mas que fosse uma homenagem sem gênero, pelo Dia Internacional da Pessoa.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Softwares e deficiência intelectual

Luciano, paralisado cerebral, utilizando o computador (Esse é o Lu - que tem uma alma linda, talento, inteligência e paralisia cerebral.)

Vez ou outra recebo pedidos de indicação de softwares específicos para serem utilizados com pessoas com deficiência intelectual.

Minha experiência no trabalho com estas pessoas me fez entender porque isso não existe.

Quando falamos em deficiência, muitas vezes nos apoiamos em reducionismos ou generalizações, sendo comum a idéia equivocada de que entre pessoas com deficiência intelectual existe uma universalidade de características comuns à todos, como se todo autista ou síndrome de Down, por exemplo, fosse exatamente igual à todos em condição semelhante, negando-se a substancialidade destes sujeitos.

Não temos todos especificidades? Não somos todos diferentes uns dos outros?
Desenvolver um software para pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, seria o mesmo que um médico indicar exatamente o mesmo tratamento à todos os seus pacientes diabéticos.

O trabalho com as tecnologias em sala de sala aula me fez ver que criar um software específico para uma determinada deficiência (não me refiro aqui aos softwares de acessibilidade) além de não ser possível não é necessário.

Pessoas com ou sem deficiência intelectual utilizam-se exatamente das mesmas funções cognitivas para aprender. O que diferencia é que por algum motivo, alguma ou algumas dessas funções psicológicas superiores na pessoa com deficiência tem um funcionamento diferenciado, levando-o à uma aprendizagem mais lenta ou à uma limitação específica e consequentemente à necessidade de estímulos, recursos ou metodologias igualmente diferenciadas.

E aí a rede é um espaço fértil em possibilidades. Atividades que desenvolvam o raciocínio, a capacidade de resolução de problemas, memória, percepção, intuição, lógica, atenção, espacialidade e temporalidade, capacidade de abstração e generalização, enfim...

Aliados à uma intervenção de qualidade do professor, os softwares podem ser importantes instrumentos para a aprendizagem. Importante destacar que nenhum software é educativo por si só. Uma mesma ferramenta pode ser educativa ou não, dependendo de todas as variantes que se apresentarem: do contexto, do olhar do professor, do objetivo..

O desafio que se mostra, portanto, não é criar ferramentas específicas de aprendizagem para pessoas com deficiência intelectual, que possam reafirmar a exclusão, é sim, buscar formas de aprender e aprender viver na diversidade.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

REM - Projeto Literário

imagem de um olho com um relógio ao centro, representando um rápido movimento de olhar
R.E.M. - Rapid Eye Movement ou Rápido Movimento do Olhar, é o projeto literário idealizado pelo amigo, escritor e educador José Antonio Klaes Roig de quem recebi o convite para uma parceria. José Antonio mantém também outros blogs dentre eles o Letra Viva e o Control Verso. O projeto tem por objetivo a escrita de breves poemas e minicontos, além de pensamentos passageiros sobre coisas duradouras da vida real e virtual. Neste espaço nos revazamos na escrita e optamos por um ilustrar o texto do outro.
Esse trabalho me fez refletir sobre algumas práticas concebidas tradicionalmente pela escola como sendo formas mais eficientes de leitura e interpretação - a leitura de códigos e palavras em detrimento da leitura dos símbolos e imagens tão presentes no nosso cotidiano. A leitura não pode estar presa à compreensão de palavras e ao processo de alfabetização. Já nos alertava Paulo Freire que a leitura é bem mais que decodificar palavras: é ler o mundo.
Os estudos comprovam que as imagens possuem a vantagem de serem melhor memorizadas e que seu uso tem dado grande avanço no processo de aprendizagem infantil.
Se considerarmos o processo de aprendizagem de alunos com deficiência, a utilização de imagens como recursos auxiliares da escrita é fundamental. A dificuldade em interpretar e escrever de forma linear pode ser diminuída em função da utilização de imagens como apoio à função da memória.
O ato de ilustrar um texto que não de própria autoria, pressupõe um exercício de alteridade literária, considerando a necessidade de colocar-se no lugar do outro que escreve e de reconhecimento próprio, através do outro. Entendendo melhor a composição e temática das imagens, podemos chegar ao nível de entender o processo de construção de sentidos expressados em imagens, no qual jogam a intencionalidade do autor e interpretação inicial do leitor.

Vivencinado isso, destaco a importância de o professor utilizar-se de formas diversificadas e criativas de produção e interpretação de textos, explorar outras formas de leitura que não somente a dos códigos da escrita, estimulando a criatividade e o prazer em aprender.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Alteridadade e Acessibilidade

Os símbolos que compõem uma identidade social não são construções aleatórias, eles mantêm vínculos com a realidade concreta.
Os conceitos e valores que construímos ao longo da vida dependem fundamentalmente das nossas percepções e do imáginário que construímos resultantes de nossas experiências sociais e coletivas.
Nessa relação com o mundo externo e com a diversidade é que passamos a compreender e vivenciar o conceito de alteridade, imbricada na questão ética do reconhecimento do outro, no reconhecimento das diferenças e do diverso.
A questão da acessibilidade depende pois, dessa capacidade de enxergar-se na pessoa do outro e isso só pode acontecer onde há interação, relação ou contato com grupos diferentes.

Um relato pessoal

Esta semana, através do grupo Educação Especial em Rede conheci a Rita, deficiente visual e sugeri à ela alguns textos deste site. Em resposta, ela diz que havia achado a fonte muito pequena e que isto havia dificultado sua leitura.
Lembrei-me então de um recurso para alteração do tamanho da fonte que já havia indicado mas que se encontrava em local de difícil acesso em meio à outras postagens.
Retornei o email com o pedido de desculpas e algumas considerações à respeito. Já fiz as alterações necessárias. A partir de agora a orientação para alteração do tamanho da fonte está em local visível (no topo da página).